Às vezes me pergunto, há quanto tempo voltamos para o Mundo
Humano, mas ninguém me sabe responder. Porém, isso neste momento não importava,
queríamos aproveita-lo pois era das raras vezes que nós, Generais Digimon, nos
uníamos.
Olhei o céu, o manto negro da noite já quase cobria o mesmo
por completo. No entanto ainda se conseguia ouvir alguns carros em
funcionamento, decerto retornavam a casa, para junto de suas famílias ou até
amigos, ainda se conseguia ver os Prédios de Empresas com as suas luzes acesas.
Mas todos eles retornariam a casa, eu tenho certeza, pois afinal, quem quer
passar este dia tão especial para todo o Mundo, sozinho? Acho que sou o único.
Depois da Morte dos meus pais, habituei-me à Vida Solitária
que este Mundo proporciona, mesmo que agora possua amigos, isso não muda para
mim.
Porém, o porquê disto tudo é porque é dia de Ano Novo, é
neste dia que as Famílias e Amigos se juntam, fazem as suas típicas
convivências, mas o mais importante, partilham a sua felicidade e os seus
desejos para o Novo Ano que há-de vir.
Eu podia ter negado o convite do Taiki, mas algo em mim se
acendeu novamente, uma sensação ao qual eu tenho certeza já ter sentido, e
portanto afirmei positivamente a minha ida para festejar. Eu esperava que
aquela sensação não retornasse, mas lá no fundo, eu sabia, sabia que era
inevitável os Sentimentos, adormecidos no fundo do meu coração, não acordarem…
Abandono meus pensamentos, assim que oiço meu nome ser
clamado por Taiki. Direciono o meu olhar em direção à qual vinha a voz dele,
grande erro o meu. Em seu alcance estavam Nene e Yuu, ao qual falavam
alegremente com Taiki, com isso arrisquei passar despercebido, virando-lhes as
costas. No entanto, assim que faço tal ação, sou novamente chamado, mas desta
vez, por uma voz suave e feminina, uma voz de Anjo para os meus ouvidos.
Tentei ignorar tal
chamado, mas assim que voltei a ouvir meu nome sendo pronunciado por ela,
desisti de tal coisa. Entreguei-me ao destino.
O que aconteceu em seguida deixou-me sem ação. Assim que me
voltei, fui atacado por dois finos e sedosos braços, que se voltaram em torno
de meu pescoço, e me arrastaram de encontro a um frágil corpo, num abraço
amigável e carinhoso.
Eu sabia muito bem a quem pertencia tais braços, tal corpo e
portanto repousei minha cabeça em seu ombro, não queria sair de seus braços
nunca mais, mas o que é bom, dura sempre pouco.
-Nene…- sussurrei, com a voz rouca em seu ouvido, fazendo com
que ela se afastasse um pouco para me olhar nos olhos, mas sem tirar os braços
de meu pescoço.
-Há quanto tempo… Kiriha-kun- mais uma vez, fiquei
hipnotizado por tal voz, os seus olhos cor lilás me encaravam com ternura e
saudade, e eu retribui o mesmo olhar- Pensei que nunca mais nos veríamos…
Queria responder a tal declaração, mas senti a minha
garganta dar um nó e a minha boca secar, tentava em vão falar, abri a boca
diversas vezes, contudo dela nada saía.
De repente tudo aconteceu como um flash,
ela me libertou de seus braços e rodou até ficar do meu lado e deu-me um beijo
na bochecha. Não consegui fazer mais nada a não ser arregalar meus olhos, senti
minhas bochechas queimaram, de certeza que estava corado.
-N-Nene…- Nunca pensei que gaguejaria um dia, mas o destino
pareceu lutar contra minhas certezas e fez tal coisa.
Por tal coisa, tapei a cara com minha mão direito. Conseguia
ouvir os risos abafados de Taiki e Yuu, ainda bem que o Tagiru ia passar o Ano
Novo com sua Família, não queria passar mais embaraços.
-Demo… Taiki, porque vamos passar o Ano Novo no meu desta
Floresta?- Perguntou Nene a Taiki, com aquela cara angelical e inocente que
possuía.
-Oh Kami-sama, esqueci de dizer o porquê de tal ato meu,
Gomen- mesmo que tenho crescido e se tornado mais maduro, não deixa de ter
aquele irritante ar de brincalhão- Eu fiz isto porque assim podemos soltar
todos os Digimon, e como os Digimon do Kiriha são grandes não dão nas vistas.
-Grande Ideia, Taiki-san!- Pelo primeira vez o Yuu se
declarou presente no ambiente e isso fez com que meus olhos se direcionassem a
ele.
Ele cresceu muito, já não parece aquele miúdo irritante ao
qual pensava que os Digimon não tinham sentimentos. Posso até admitir que fico
orgulhoso que a lição que lhe dei
tenha sido deveras importante para a sua mudança.
Assim que me dei conta, já estavam todos com seus Digimon
fora do Xros Loader, e assim fiz o mesmo.
-Greymon,
MailBirdramon, Dracomon, Cyberdramon, Gaossmons!- Uma forte luz azul
saiu do meu Xros Loader e com isso os meus Digimon saíram do seu interior.
Senti uma pontada de tristeza acertar em meu coração, sentia
falta de Deckerdramon. Ele abriu meu coração, mas com isso morreu para tal.
Afastei-me de todos e sentei-me em uma rocha que havia,
naquela floresta. Olhei a Lua Cheia que chamava a atenção de qualquer um, fazia
todos deslumbrarem a sua beleza, mas também conseguia deixar tristeza no ar,
pois se rodeava da mais pura escuridão e solidão.
Cheguei a pensar se
em outro Mundo seria uma Lua, pois eu era solitário, não só naquele momento eu
me sentia vazio, e sim em maior parte da minha Vida. Mas tão rapidamente mudei
minha opinião, pois senti alguém se sentar ao meu lado e também contemplar a
Lua.
-Devias estar a divertir-te… O que te preocupa, Kiriha-kun?
Só ela acrescenta
o -kun em meu nome, e também é das poucas
pessoas ao qual se preocupa comigo e que possui minha confiança.
Eu precisava de desabafar, e ela deve ter percebido tal
coisa e veio até mim. Com um suspiro capto sua atenção que até então olhava
novamente para o Grande Astro que nos
iluminava, à espera de uma resposta minha.
-É meio difícil para mim dizer tal coisa, mas… Sinto falta
de Deckerdramon, gostava imenso de partilhar este dia com ele.
-Ele deu sua Vida por todos nós, mas especialmente, por ti-
A sinto suspirar triste e pesadamente- Ele não iria gostar de saber que neste
Grande dia estavas triste devido a ele… Nem ele… Nem eu…
Mesmo que tenho dito esta ultima parte em um sussurro, eu
ouvi claramente. Estava estupefacto com tal declaração, por segundos pensei
estar a sonhar, mas tirei logo esse pensamento de mim. Não aguentei e aproximei
minha face da dela.
Não esperava que ela fosse fazer o mesmo ato que eu.
Estávamos cada vez mais perto um do outro, já conseguia sentir a respiração
dele em minha face, entregamo-nos de cabeça aos nossos sentimentos… Um roçar de
lábios, apenas isso… Teria-mos ido mais longe se não fosse Taiki a chamar-nos,
pelo que parecia, faltavam poucos minutos para a contagem decrescente para o
Ano Novo.
Afastámo-nos rapidamente um do outro, e nos levantamos, sem
proferir qualquer palavra. Encaminhamo-nos em silêncio até à pequena roda à
volta da fogueira, preparada recentemente, e nos sentamos junto dos outros. Ela
sentou-se em frente a mim e Taiki nos entregou duas taças de plástico com
sumos, já que eramos novos demais para beber bebidas alcoólicas.
Taiki e Shoutmon tagarelavam sem parar, até que começaram…
-9!...
Ai tudo começou, fomos fazendo a contagem trocando sorrisos
e olhares de carinho, a nossa felicidade crescia mais a cada número proferido.
-3!... 2!... 1!... Feliz Ano Novo!-Gritamos sem o menor
receio de sermos descobertos naquele local.
Percorri com meu olhar todos ali presentes, mas parei numa
pessoa específica. E não demorou muito para ela me olhar também, trocamos
olhares cheios de significado, só nós sabíamos o que aconteceria connosco no
Futuro. Para finalizar, trocamos um sorriso sincero, e cheio de Esperança…
Foi sem dúvida, o Melhor Ano Novo que tive… Agora, só espero
que neste Ano tudo aconteça, tal como sempre sonhei e tal como meus sentimentos
queriam...
Sem comentários:
Enviar um comentário